quinta-feira, junho 21, 2007

No Fim

No fim de tudo, não vai sobrar quase nada. Não vai sobrar concreto, não vai sobrar nada concreto pra concretizar. Nada de poesia e poetas e poesismo poético. Não vai rolar prosa, nem prozac vai acalmar. Quando tudo acabar não teremos rede macia, nem de tv nem de pano nem de nada. Quando tudo acabar (e quando digo tudo, quero realmente dizer TUDO) aquilo lá em cima vai ser quase tão baixo quanto o mais baixos dos baixos, e som nenhum vai rolar (pois o som tem que ter lugar pra atravessar)
No fim de tudo as lembranças não serão mais lembranças, os sonhos não serão sonhos, as experiencias, todas elas, não servirão de nada, absloutamente nada. No fim de tudo ninguem vai saber que eu existo, que eu existi, que eu sonhei e sofri por causa disso. No fim de tudo, o fim será absoluto. E o inicio, aquele pobre coitado deitado na calçada, esperando a chuva passar, será enxotado pra fora da existencia como um mendigo sujo na rua.
No fim de tudo nem morte vai existir. Pois já dizia Nick Cave que a Morte não é o Fim. Pelo bem ou pelo mal, no fim de tudo nem a morte vai ser o final, e todo mundo que hoje sonha em ter alguma coisa que valha a pena, no fim de tudo não vai estar em nenhum lugar.
No fim de Tudo as retoricas serão só retorica.
No fim de tudo pouco vai adiantar os amores que se foram ou inda virão. Pouca importa o que passou e o que esta por vir. No fim de tudo que conhecemos e que não conhecemos, o misterio se cessara em prol de um nada completo.

No fim o Nada será Tudo.



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segunda-feira, junho 18, 2007

Apenas nas Madrugadas

Apenas nas madrugadas sinto que sou eu mesmo.

Aqui há silêncio. Há falta de tudo o que fazer e não há ninguém.
Ninguém para quem dizer que todas as uvas estavam azedas e ninguém para quem dizer tem um cabelo no meu prato.
Aqui só me encontro com quem quero me encotrar, consigo ir para qualquer lugar que eu queira. Não há muitos que me agradam mas qualquer outro além deste serviria.

Só vejo as garotas que quero ver. Talvez todas se chamem Íris, ou só uma delas. Talvez nenhuma tenha nome. Eu também não tenho.
Algumas tem cicatrizes na face direita que passam pelo olho. São cegas dele. Algumas tem cicatrizes em seus tórax, mas destas apenas eu sei.

Quando que lerá isso e me tirará daqui? Quanto tempo mais eu vou ter que esperar?
Eu espero que seja em breve. Estou começando a sentir saudades de tudo que eu não vi e de vocês que não conheço. Continuo a esperar por qualquer coisa. Qualquer uma.

Mas só de madrugada, pois só aqui sou eu.
E nos crepúsculos.

quinta-feira, junho 14, 2007

Treinos de Campeonato

Tudo começava com uma corrida bem leve. Corriamos por quase dois minutos e nos ultimos trinta segundos (contados mentalmente por mim, o que dava Bem mais que trinta segundos) aceleravamos o maximo que era possivel.
Logo depois vinham os exercicios de aquecimento. Eram cinco sequencias de Polichinelo, em que se alternavam os modos como os pés e as mãos giravam, as sequencias tinham, em média, vinte repetições para os novatos, 50 para as meninas e 100 para os quatro veteranos idiotas (Thomas, Preto, Bruno e eu) logo depois ficavamos pulando (o que era um prazer) e partiamos para as classicas sequencias de alongamentos, flexões e abdominais.
Em dias frios, tinhamos um modo muito proveitoso de fazer isso. A sala onde treinavamos era de uns vinte metros por vinte mais ou menos, então corriamos em circulo, respeitando a ordem estabelecida na formação inicial (os veteranos no fundo, as meninas e os novatos mais à frente e eu na frente de todos, puxando as aulas) uma corrida rapida mas que respeitava o espaço de cada um, corriamos por alguns segundos até que a ordem era dada. Então nos sentavamos e começavamos a fazer alongamentos. Primeiro a Abertura Frontal (aquela classica que as bailarinas fazem) depois a lateral (igual ao do Goku quando se prepara pra lutar) então voltavamos a correr. Vinte segundos depois outra sequencia de aberturas e, nas ultimas cinco sequencias os alongamentos encostavam no chão. Segundo uma lenda, não é vergonha nenhuma chorar na hora do alongamento.
Depois continuavamos a correr do mesmo modo, porem ao invez de alongamentos, faziamos sequencias alternadas de flexões e abdominais. Os quatro veteranos ficavam mais ao centro da roda, para não atrapalhar os novatos, esses que faziam dez flexões e dez abdominais, ou mais dependendo do nivel tecnico. Já para os veteranos, as sequencias eram de 180 para cada parada. Era obrigatorio que, quando os novatos estivessem na décima abdominal, os vetereanos deveriam estar, no minimo, na 60. não se permitia, por uma lei implicita nos treino, que os novatos ficassem muito a frente dos veteranos. normamente fazia-se 10 sequencias de corrida flexão - abdominal e então os novatos iam para a resistencia. (que era simplesmente ficar com as pernas flexionadas e com os braços esticados por cinco minutos, depois em posição de cavalo - que se assemelha ao sentar, só que sem banco - por dez minutos). Mas para os veteranos a coisa era diferente.

Treinavamos uma Tecnica que, segundo as lendas chinesas, funcionava como concentração de energia (o cosmos, ou o Ky. Em chines diz-se Chi) os treinos eram relativamente simples e bobos, só era necessario que tivessemos uma tecnica de respiração adequada, concentração e a lingua encostada no ceu da boca. Em teoria, um negocio simples, mas como ja pude ver algumas vezes, a coisa ficava complicada se voce exagerasse na dose, pois a tal energia concentrada podia acabar te machucando, o que forçava a todos que treinam isso dispersar de algum modo a energia que acumulavam. E era exatamente isso que faziamos. Logo depois do Treino de Tchi-kun (esse é o nome da concentração de energia) acabar (o que duravam meia hora, só respirando e se concentrando) eram necessarios alguns exercicios bastante simples. Primeiro nos deitavamos no chão já ensopado de suor do treino de Tchi-kun e faziamos abdominais, 300 eram o bastante, e não era sábio parar no meio a sequencia, pois poderia acabar machucando o corpo, depois vinham a sequencia de flexões, primeiro 100 com as duas mãos, depois 10 com a mão esquerda, 10 com a mão direita, depois escolhiamos qual mão nos era mais habil e comaçavamos mais uma sequencia, mas contada alto e tirando um dedo a cada duas flexões, ou seja, na primeira tinhamos dez dedos no chão, na terceira 9, na quinta 8 e assim por diante até chegar a ter somente dois dedos no chão, onde paravamos a contagem e faziamos mais dez flexões com só com os dois dedos (dedos esses o dedão e o indicador) ao fim dessas dez, tiravamos o indicador e com o pulso projetado pra tras do corpo e o polegar bem firme, faziamos mais dez flexões. eu nunca consegui terminar os dez com um dedo só.

Depois disso iamos para o treino especifico de tecnicas. Exceto nos dias de combate (uma vez por semana) onde, alem do aquecimento ser mais puxado, com lutas-sombra antes da resistencia e alguns momentos "sparring" meus, as contagens eram maiores.

Normamente eu desmaiava nos dias de treino de combate.

E tudo isso quatro vezes por semana, incluindo um treino de sabado que durava 4 horas e tinha um aquecimento um pouco mais puxado que os treinos de combate.

Normamente, as lutas de campeonato não duravam mais que uns dois minutos.




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domingo, junho 10, 2007

A Pior Noite de São Paulo

Estávamos sentados em minha cozinha, eu e C. no banco aparafusado a parede e Marcelo do outro lado. Acho que não conseguíamos nos decidir em alguma coisa para fazer, isso andava acontecendo bastante. Se não me engano foi C. quem lançou:
- Ei, se lembram da melhor noite de São Paulo?
Eu me lembrava, dei um aceno com a cabeça. Marcelo ficou uns instantes olhando para o teto, depois soltou um “ah, lembro-me”. Nunca vou entender os momentos que ele escolhe para usar ênclises. Logo depois C. continuou:
- Por que mesmo aquela foi a melhor noite de São Paulo?
- Hum, - eu disse – acho que foi porque nós nos divertimos aquele dia, não? Eu me lembro que nos sentimos alegres falando de um futuro que nunca vai acontecer. E depois a gente se sentiu confortável dentro de carros conhecidos e de carros desconhecidos. Eu acho que foi isso.
- Mas sabe, - ele respondeu - será que isso quer dizer que nunca mais vamos ter uma noite melhor que aquela? Tudo que a gente fizer vai ser pior que aquilo com certeza?
- Pelo menos foi só de São Paulo, ainda tem um monte de cidade para a gente visitar; foi o que Marcelo disse. Acho que ele estava bêbado na hora, não me lembro muito bem.
- Além do mais, - eu disse - só porque aquela foi a melhor não quer dizer que outras não possam ser boas. Dá para as outras noites serem um tiquinho piores, mas ainda assim muito divertidas.
- É verdade! É verdade! – foi o que o C. exclamou. Ele se animou um pouco e começou a fazer uma dança com alguns de seus dedos.
Depois disso ficamos em silêncio por mais alguns momentos. C. continuava com sua dancinha e Marcelo com os olhos no teto. Não sei o que eu fazia. Devia estar prestando atenção nos dois, eu acho. Marcelo então baixou os olhos e disse:
- Nessa noite eu não tive uma briga feia com a minha ex-namorada?
- Não consigo me lembrar de muitas coisas. - disse o C., sem parar com sua dança.
- Vocês estão falando sério que não se lembram de nada? – eu disse – É, você brigou sim com sua ex-namorada. E o C. se sentiu muito mal por ter feito um papel de bobo para a dele, não se lembram de nada disso? Todos vocês passaram mal, alguns vomitaram, e terminaram a noite completamente tristes.
- Rapaz! – C. disse – É verdade, to me recordando agora. Tinha me esquecido de tudo isso.
- Espera aí. – foi o Marcelo dizendo – Quer dizer que toda essa porcaria só aconteceu com a gente? E com você, não aconteceu nada? Você não brigou com ninguém nem sentiu nada por causa da noite?
- Não briguei com ninguém, com quem eu poderia brigar? Eu não estava com ninguém, eu estava vendo desenhos animados enquanto vocês brigavam. Também não teria porque me sentir mal. Se qualquer coisa, eu me senti um pouco alegre por ver todos os casais brigando e terminando mal a noite enquanto eu estava alegre com meus desenhos.
Marcelo deu uma suspirada. A dancinha dos dedos de C. havia mudado, como se a música para a qual dançassem fosse agora mais triste. Eu dei um último gole em meu copo e com isso toda nossa bebida tinha acabado.
- Não sei se tenho mais muita vontade de lembrar da melhor noite de São Paulo, ela não me parece mais muito boa. E se realmente nunca mais tivermos nada melhor que aquilo será uma tristeza. – disse Marcelo.
- Quem sabe “Melhor” seja só um título, sabe? – disse C. – que nem o Elton John ser um Sir.
- É verdade. Ele é um Sir e a música dele continua uma porcaria. – eu disse.
Enquanto C. discutia comigo quão fabuloso Elton John era, Marcelo pegou um talher qualquer jogado na mesa e começou a bater levemente do lado de seu copo vazio. Paramos e olhamos para ele:
- Proponho então um brinde. Aqui está, para hoje! A Pior Noite de São Paulo!
- Pior noite? – eu disse – Não está tão ruim assim.
-É! – disse C. – Eu até comi hoje!
- Isso não importa! – Marcelo disse – A idéia é transformar essa na pior noite de todas. Se essa aqui for a pior quer dizer que as outras serão melhores, logo não temos muito a perder.
“É, faz senti...” foi o que C. disse. Mas na hora que estava para terminar a frase o banco onde estávamos soltou da parede e caímos no chão. Nenhum dos dois se machucou muito. Depois de nos levantarmos C. tentava reerguer o banco, achando que aquilo era de alguma forma culpa dele.
- Não se preocupe. – eu disse – Esse banco já estava velho. Há mais de 15 anos que eu sentava nele, uma hora ia quebrar. De qualquer jeito ele durou mais do que a maioria de nós. Você estava falando de um brinde?
- É! – disse C. – À pior noite de São Paulo?
- Á Pior Noite de São Paulo!

E brindamos com nossos copos vazios.