segunda-feira, outubro 30, 2006

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Vez ou outra ela acordava no meio da madrugada achando que tinha cheirado cocaina, ela podia sentir o cheiro, podia sentir a dormencia seguida de todo choque de sensações, o coração batendo mais rapido que um mecanismo poderia sentir, a cabeça girando não o seu proprio eixo, mas sim orbitando uma lua fantasma que morava bem ao lado de sua imaginação. mas logo a razão lhe vinha a cabeça, ela acordava e se lembrava que nunca tinha experimentado cocaina, que tudo vinha não da substancia ardorizante que é aquele pó branco, mas sim de propria sua angustia de dormir cedo, sozinha, no frio que era aquela cidade no meio do pais mais populoso daquela redondeza.




Minha mãe sempre dizia que nunca se deve chorar. o choro não é parte do ser-humano, dizia ela com uma cara de brava e um olhar de sincera. mamãe mentia. eu a vi chorando no tumulo daquele que chamavamos de papai, que mesmo sem ser o verdadeiro homem que nos deu a luz, ainda sim era o que trabalhava muito e comprava chocolate nos dias de festa. nunca me perguntei o porque disso. Mas mamãe nunca mais chorou, e nunca mais tambem pude ver seu olho, nunca mais ela me deu o des-prazer de olhar sua cara. Nunca mais mamãe esteve ali.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Nós todos andamos olhando para baixo.

Um dia C. chegou com ombros largos e nos disse “de agora em diante andarei com a cabeça erguida”. Ficamos espantados, mas ao menos achamos que algo bom havia ocorrido.

Foi quando no dia seguinte o vimos chegar à faculdade, com a cabeça erguida, sim, erguida demais. Olhando para cima, para o céu. Ele esbarrava nas pessoas e tropeçava constantemente.

Não conseguia mais se locomover como antes. Pegava o ônibus necessário, mas os pontos corriam por debaixo de seus olhos assim nunca descia no correto. Por isso tinha que andar um longo caminho até sua casa, o que fazia com que tropeçasse mais e mais. A cada dia aparecia com novos machucados, alguns começando a se tornar sérios.Depois de uma semana ele nos disse tchau, se virou e andou direto em direção à um barranco.

No dia seguinte ele disse oi aos nossos sapatos.