segunda-feira, março 31, 2008

O Antro morreu.

Foi engolido pelo tempo e pelo (falta de) espaço.

sábado, março 01, 2008

Memórias

Alguns clichês são ditos tão repetidamente que no fim não presto atenção ao que eles querem dizer. Uma pessoa me dizer que não consegue se reconhecer ao se olhar no espelho me causaria apenas impressão de uma novela brega ou de uma crise ridícula de uma garota de catorze anos. Mas acho que faz sentido agora.
Às vezes me parece que durante a convivência normal do dia a dia percebemos certos pedaços que funcionam melhor e, sem querer, nos atemos mais a eles do que ao resto. No fim, em um curto espaço de tempo, acho que sobra apenas um pastiche daquilo que funcionou e da pessoa não sobra nada. É angustiante olhar para três meses atrás e perceber que não se está mais buscando nada do que se estava na época.
Mas diria que o pior mesmo são as lembranças. Me parece que o processo de troca de pele me faz completamente alheio a tudo que se passa durante o período de transição. E então me lembro de coisas; coisas ditas, coisas vistas, e me parece que elas existem apenas para mim agora. Algo que foi dito em outra época eu ignorei completamente. Acho que eu não estava com vontade de entender aquilo, ou quem sabe apenas não tivesse cabeça no momento... esse tanto não importa. O que me aflige é o fato de aquilo ter restado apenas em mim. Como a importância daquilo pode ser medida? Não consigo me decidir se aquilo foi real porque eu me lembro ou se foi falso por eu ser a única pessoa a recordar.
E, se eu sou o único, então isso tudo está morto. Não sou capaz de sustentar tudo isso sozinho; ainda mais para, quem sabe, descobrir que sustento apenas uma grande mentira.
Alguém me disse que eu poderia tentar me esquecer disso e colher novas memórias. Mas acho que eu gostava mais de tudo que está morto de o que tenho à mão agora.
Também acho que a perspectiva que altera a percepção. Antes tudo era espaçado, mas de onde estou agora tudo parece comprimido, preso ao mesmo espaço de tempo. Daí parece mais como um capítulo de um livro, algo coeso como um começo, meio e um fim que não percebi.
Mas também tudo isso não importa. Só sei que quando percebo isso odeio o pastiche que fiz. E tudo que vem à sua volta também. Não gosto de meus gostos, não gosto do que faço, não gosto de meus amigos, não gosto de minhas conversas... Gosto apenas daquele momento da lembrança e, aparentemente, de o que aquilo não se tornou. Por alguma razão quero apenas me ater àquilo que não explorei.