segunda-feira, abril 30, 2007

As noites e o teto

O telefone tocou:
- Alô.
- Cara, o que você está fazendo?
- Quem é?
- Sou eu.
- Eu quem?
- Porra, EU!
-Marcelo?
-É!
- Porque não disse logo?
- Eu disse horas! Eu!
- Enfim... o que foi.
- Está fazendo alguma coisa?
- Estou olhando para o teto.
- Hein?... fazendo o que?
- Olhando para o teto.
- Por que raios você está fazendo isso?
- Bem, me falta ânimo para qualquer outra coisa.
- Sério mesmo?
-Não, para falar a verdade não. Eu tinha uma festa que eu poderia ir e uma garota para quem poderia ligar.
- E por que não fez nada disso?
- Bem, eu não acredito realmente que a garota queira fazer algo. Acho que ela respondeu um “ok” apenas para ser educada na esperança de que eu entendesse através da mensagem dela que ela não queria fazer nada. Foi isso que eu fiz, por isso não liguei.
- E quanto a festa?
- Provavelmente teria gente demais. E se eu fosse, o que seria disso? Eu encontraria pessoas, conversaria, beberia um pouco. Grande noite, grande coisa. Preferi manter a pose, sabe? Ficar aqui olhando o teto, eventualmente escutando uma música, eventualmente lendo um livro e eventualmente escrevendo alguma coisa quem sabe.
- Manter pose? Que porcaria de pose é essa? E como você teria uma pose se está trancado em seu quarto deitado na cama? Como que alguém ficaria sabendo disso?
- Essa é a parte complicada. Para que isso acontecesse alguém teria que me ligar e me perguntar o que eu estou fazendo. Nisso eu apenas diria “olhando o teto” e a pose estaria mantida. Seria perfeito se fosse a garota ligando, ela certamente acharia isso um tanto estranho mas ficaria motivada a me ver. Isso tiraria a vergonha minha de chamá-la. Outra possibilidade seria que alguém da festa me chamasse. Isso certamente me animaria e, quando eu chegasse lá, todos me olhariam dizendo “é o cara que estava olhando o teto”.
- Bem, eu liguei para você.
- É verdade. E eu estava olhando para o teto, o que acha disso.
- Acho que você é um grande idiota. Mesmo que você estivesse apenas olhando para o teto seria estupidez. Mas nem isso você conseguiu fazer! Você finge olhar para o teto. Mas enfim, seu plano finalmente aconteceu. Quanto tempo você esperou para que isso desse certo?
- Seis anos.
- Seis anos?! Não é a toa que eu nunca te vejo nos fins de semana... você é doente cara. E agora que você conseguiu “manter sua pose”, como se sente?
- Sinto que perdi um bocado de festas.



qualquer semelhança entre os fatos narrados e a realidade é pura tristeza.

quarta-feira, abril 25, 2007

Eu queria ser um pirata...

Mas mamãe disse que isso não dava futuro e que nenhuma mulher iria querer se casar comigo se seguisse essa carreira. Acabei virando advogado mas desisti logo; não sei porque mas sempre berrava "ARRRRR!" na corte e muitos juízes consideravam isso um desacato.

Hoje em dia vendo enciclopédias e, semana passada mesmo, perdi um olho fazendo isso.

domingo, abril 15, 2007

A velha no onibus

Domingo de manha estavamos no onibus. Paramos em um ponto qualquer e nesse ponto nos demoramos quase meio minuto. Alguem que deveria subir não estava subindo, eu podia ver a porta da frente, ninguem embarcava. Foi quando com muito esforço ela subiu. Era um mulher Grande, gorda mesmo. Vinha mancando desbaratinadamente, parecia sentir muita dor e nenhuma vergonha disso. Ela era imensa, negra, usava uma bengala de madeira pobre e tinha na perna uma especie de infeção, algo que corroia toda a pele e mostrava os ossos que existiam debaixo dela, era a unica parte do corpo da mulher que não estava coberto de carne. Ela carregava apenas duas coisas, coisas até normais à primeira vista para uma mulher, uma bolsa marron comum, uma daquelas bolsas que poderiam ser facilmente dos anos 60 ou 70, e uma sacola de plastico de supermercado, uma sacola tamanho grande. dentro da tal sacola tinha algo que nos primeiros tres minutos de viagem eu não tive a menor capacidade de descobrir. Mas momentos depois de começar a me indagar de verdade o que essa estranha senhora tinha na sacola, ela fez o favor e a bondade de abrir-lo. E de dentro saiu uma boneca de plastico. Uma daquelas bonecas de criança que eu nem sei mais se existem. na cabeça da criança uma meia marrom cobria aquela imitação de cabelo inverrossimel. E a senhora ninava a boneca com um desespero fatal. Jogava a plastica cabeça em seus ombros e fazia a pobre menina (ou menininho) dormir tranquilo, sabendo que mamãe esta ali. Pessoas subiam no onibus e não notavam que aquela velha com bengala fazia uma boneca de plastico dormir. E eu a olhava.

Quando o meu ponto de descida se aproximava, me levantei para descer sentindo um pouco de pena de ñão mais poder observar essa mulher. Nas cidades grandes (diferentemente da minha cidade natal) as pessoas não percebem muito a existencia dos outros. Mas se assustei quando a mulher se levantou tambem, meio apressada, guardando a boneca de novo na sacola. Quando eu desci, ela desceu tambem, na porta da frente, e o mais estranho é que pra onde eu andava, a mulher me seguia, naqueles passos lentos de bengala. quando chequei em casa descobri que a mulher era minha vizinha.



CB4

terça-feira, abril 03, 2007

A Melhor Falha

Estávamos olhando os cartazes presos às paredes quando C. exclamou:
- Uau! Olha só isso!
- O que C.?
- Nada! Será uma surpresa! – e rapidamente arrancou o cartaz antes que eu pudesse ver sobre o que se tratava.

Foi na festa da noite seguinte que descobri o que ele havia feito. Ele se aproximou de mim com um sorriso na cara:
- Quase na hora.
- Na hora de que C.?
- Você não viu o concurso de canto que vai começar daqui a pouco?
- Vi sim, e daí?
- Pois então! Eu vou participar, deseje-me sorte, está próximo da minha vez.

Durante meia hora jurei que era algum tipo de brincadeira que só fazia sentido para C., por isso não pude acreditar quando chamaram o nome dele para subir no palco montado. Ele estava se caminhando calmamente quando eu o parei:
- Espere aí.
- O que foi?
- Você não sabe cantar!
- Não... não sei.
- Então para que vai tentar isso? Não faz sentido nenhum!
- Eu quero é tentar mesmo, sabe? Só para falhar.

E então ele subiu no palco... e foi tudo absolutamente horrível. C. era desafinado e sem nenhum ritmo. Se Demorava demais em alguns versos e se alongava em outros. Tudo ficava fora do tempo. Ele também não havia decorado toda a letra; nos pedaços que não sabia apenas encaixava um “lá lá lá” sem espírito ou ficava em um “hummm hummm” como se só estivesse esperando aquele trecho acabar. As outras pessoas que estavam assistindo não sabiam exatamente o que pensar. Alguns acharam que era piada de alguém, de algum grupo quem sabe, e por isso não entendiam. Outros acharam que era mais uma manifestação de algum pós-moderno, mas de qualquer jeito uma manifestação que não era digna de nota. Houve também o grupo dos que acharam tudo uma idiotice, o dos que acharam que era um desrespeito aos verdadeiros cantores e o dos que acharam que era apenas a tentativa de um engraçadinho aparecer.


Nenhum deles acertou. Mas eu aplaudi. Aplaudi fervorosamente.

segunda-feira, abril 02, 2007

Era uma aula de Literatura Portuguesa Chata 2. Camoes. Uma professora de cabelos curtos. H. e eu estavamos lutando para não dormir, eu mais por medo de algum tipo de bronca que a mulher lá na frente de cabelos curtos daria por dormir na aula do "maior GENIO da literatura de lingua Portuguesa". H. só tinha vergonha mesmo.

Mas o treco era chato demais. Podia ver o macaco do sono indo de aluno para aluno, com seu martelo pesado, batendo na cabeça de todos. As pequenas mentes pensantes-pseudo caiam como moscas. Não tinham qualquer chance. E o Macaco avançava sem medo nenhum até perto de mim, doido para me fazer desmaiar com uma marretada certeira. Camoes blá blá blá Classico Blé Blé Blé - Ai meu Deus! tenho que ficar acordado! Minha Sorte vai me fazer ser o unico notado daqui. A professora vai olhar pra mim, ela vai me notar, ela vai me notar! Pense, pense, Pense em algo que não te faz dormir! Pj harvey! A musica do Rocky Balboa! mamilos rosados! Pave de limão!



Eu consegui bravamente sobreviver. Mas H. Não. E enquanto eu tentava desesperadamente não dormir, pude ver todo a cabeça dele pendendo, indo direto a carteira. Despencava feito uma pluma de vinte quilos. E a partir desse momento tudo ficou estranho. Quando H. encostou a cabeça na carteira, dormindo com gosto, eu pude ver que, bem abaixo da testa, onde começam os sílios, uma pequena bolota começou a nascer. primeiro foi bem pequenina, quase um carrapatinho. Mas segundos depois ja era um tumorzinho, e crescia, crescia, crescia descontroladamente, cada vez maior e maior. Quando ela atingiu o tamanho de um balão pequeno, eu tive a ideia de acordar H. para que ele pudesse ir ao medico. mas não fui rapido o bastante. A cabeça de H. explodiu violentamente, jorrando sangue pra tudo quanto é lado. Freedy Krueger saiu de lá de dentro e, com aquela voz que me assustou a infancia inteira, gritou pra mim

"agora é a sua vez, Sucker!"


H. me disse, depois da aula em que sai correndo gritando "Freddy Krueger!!!! Freddy Krueger!!! Socorro!!!", que a mulher de cabelos curtos queria falar comigo. Segundo ela eu ando dormindo demais nas aulas dela. Merda!





Cb4

domingo, abril 01, 2007

Big Brother, nowadays, has coffee breaks and listens to Regina Spektor.
But he's still watching over you!