As noites e o teto
O telefone tocou:
- Alô.
- Cara, o que você está fazendo?
- Quem é?
- Sou eu.
- Eu quem?
- Porra, EU!
-Marcelo?
-É!
- Porque não disse logo?
- Eu disse horas! Eu!
- Enfim... o que foi.
- Está fazendo alguma coisa?
- Estou olhando para o teto.
- Hein?... fazendo o que?
- Olhando para o teto.
- Por que raios você está fazendo isso?
- Bem, me falta ânimo para qualquer outra coisa.
- Sério mesmo?
-Não, para falar a verdade não. Eu tinha uma festa que eu poderia ir e uma garota para quem poderia ligar.
- E por que não fez nada disso?
- Bem, eu não acredito realmente que a garota queira fazer algo. Acho que ela respondeu um “ok” apenas para ser educada na esperança de que eu entendesse através da mensagem dela que ela não queria fazer nada. Foi isso que eu fiz, por isso não liguei.
- E quanto a festa?
- Provavelmente teria gente demais. E se eu fosse, o que seria disso? Eu encontraria pessoas, conversaria, beberia um pouco. Grande noite, grande coisa. Preferi manter a pose, sabe? Ficar aqui olhando o teto, eventualmente escutando uma música, eventualmente lendo um livro e eventualmente escrevendo alguma coisa quem sabe.
- Manter pose? Que porcaria de pose é essa? E como você teria uma pose se está trancado em seu quarto deitado na cama? Como que alguém ficaria sabendo disso?
- Essa é a parte complicada. Para que isso acontecesse alguém teria que me ligar e me perguntar o que eu estou fazendo. Nisso eu apenas diria “olhando o teto” e a pose estaria mantida. Seria perfeito se fosse a garota ligando, ela certamente acharia isso um tanto estranho mas ficaria motivada a me ver. Isso tiraria a vergonha minha de chamá-la. Outra possibilidade seria que alguém da festa me chamasse. Isso certamente me animaria e, quando eu chegasse lá, todos me olhariam dizendo “é o cara que estava olhando o teto”.
- Bem, eu liguei para você.
- É verdade. E eu estava olhando para o teto, o que acha disso.
- Acho que você é um grande idiota. Mesmo que você estivesse apenas olhando para o teto seria estupidez. Mas nem isso você conseguiu fazer! Você finge olhar para o teto. Mas enfim, seu plano finalmente aconteceu. Quanto tempo você esperou para que isso desse certo?
- Seis anos.
- Seis anos?! Não é a toa que eu nunca te vejo nos fins de semana... você é doente cara. E agora que você conseguiu “manter sua pose”, como se sente?
- Sinto que perdi um bocado de festas.
qualquer semelhança entre os fatos narrados e a realidade é pura tristeza.
- Alô.
- Cara, o que você está fazendo?
- Quem é?
- Sou eu.
- Eu quem?
- Porra, EU!
-Marcelo?
-É!
- Porque não disse logo?
- Eu disse horas! Eu!
- Enfim... o que foi.
- Está fazendo alguma coisa?
- Estou olhando para o teto.
- Hein?... fazendo o que?
- Olhando para o teto.
- Por que raios você está fazendo isso?
- Bem, me falta ânimo para qualquer outra coisa.
- Sério mesmo?
-Não, para falar a verdade não. Eu tinha uma festa que eu poderia ir e uma garota para quem poderia ligar.
- E por que não fez nada disso?
- Bem, eu não acredito realmente que a garota queira fazer algo. Acho que ela respondeu um “ok” apenas para ser educada na esperança de que eu entendesse através da mensagem dela que ela não queria fazer nada. Foi isso que eu fiz, por isso não liguei.
- E quanto a festa?
- Provavelmente teria gente demais. E se eu fosse, o que seria disso? Eu encontraria pessoas, conversaria, beberia um pouco. Grande noite, grande coisa. Preferi manter a pose, sabe? Ficar aqui olhando o teto, eventualmente escutando uma música, eventualmente lendo um livro e eventualmente escrevendo alguma coisa quem sabe.
- Manter pose? Que porcaria de pose é essa? E como você teria uma pose se está trancado em seu quarto deitado na cama? Como que alguém ficaria sabendo disso?
- Essa é a parte complicada. Para que isso acontecesse alguém teria que me ligar e me perguntar o que eu estou fazendo. Nisso eu apenas diria “olhando o teto” e a pose estaria mantida. Seria perfeito se fosse a garota ligando, ela certamente acharia isso um tanto estranho mas ficaria motivada a me ver. Isso tiraria a vergonha minha de chamá-la. Outra possibilidade seria que alguém da festa me chamasse. Isso certamente me animaria e, quando eu chegasse lá, todos me olhariam dizendo “é o cara que estava olhando o teto”.
- Bem, eu liguei para você.
- É verdade. E eu estava olhando para o teto, o que acha disso.
- Acho que você é um grande idiota. Mesmo que você estivesse apenas olhando para o teto seria estupidez. Mas nem isso você conseguiu fazer! Você finge olhar para o teto. Mas enfim, seu plano finalmente aconteceu. Quanto tempo você esperou para que isso desse certo?
- Seis anos.
- Seis anos?! Não é a toa que eu nunca te vejo nos fins de semana... você é doente cara. E agora que você conseguiu “manter sua pose”, como se sente?
- Sinto que perdi um bocado de festas.
qualquer semelhança entre os fatos narrados e a realidade é pura tristeza.
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