domingo, abril 15, 2007

A velha no onibus

Domingo de manha estavamos no onibus. Paramos em um ponto qualquer e nesse ponto nos demoramos quase meio minuto. Alguem que deveria subir não estava subindo, eu podia ver a porta da frente, ninguem embarcava. Foi quando com muito esforço ela subiu. Era um mulher Grande, gorda mesmo. Vinha mancando desbaratinadamente, parecia sentir muita dor e nenhuma vergonha disso. Ela era imensa, negra, usava uma bengala de madeira pobre e tinha na perna uma especie de infeção, algo que corroia toda a pele e mostrava os ossos que existiam debaixo dela, era a unica parte do corpo da mulher que não estava coberto de carne. Ela carregava apenas duas coisas, coisas até normais à primeira vista para uma mulher, uma bolsa marron comum, uma daquelas bolsas que poderiam ser facilmente dos anos 60 ou 70, e uma sacola de plastico de supermercado, uma sacola tamanho grande. dentro da tal sacola tinha algo que nos primeiros tres minutos de viagem eu não tive a menor capacidade de descobrir. Mas momentos depois de começar a me indagar de verdade o que essa estranha senhora tinha na sacola, ela fez o favor e a bondade de abrir-lo. E de dentro saiu uma boneca de plastico. Uma daquelas bonecas de criança que eu nem sei mais se existem. na cabeça da criança uma meia marrom cobria aquela imitação de cabelo inverrossimel. E a senhora ninava a boneca com um desespero fatal. Jogava a plastica cabeça em seus ombros e fazia a pobre menina (ou menininho) dormir tranquilo, sabendo que mamãe esta ali. Pessoas subiam no onibus e não notavam que aquela velha com bengala fazia uma boneca de plastico dormir. E eu a olhava.

Quando o meu ponto de descida se aproximava, me levantei para descer sentindo um pouco de pena de ñão mais poder observar essa mulher. Nas cidades grandes (diferentemente da minha cidade natal) as pessoas não percebem muito a existencia dos outros. Mas se assustei quando a mulher se levantou tambem, meio apressada, guardando a boneca de novo na sacola. Quando eu desci, ela desceu tambem, na porta da frente, e o mais estranho é que pra onde eu andava, a mulher me seguia, naqueles passos lentos de bengala. quando chequei em casa descobri que a mulher era minha vizinha.



CB4