quarta-feira, março 14, 2007

Exercicio de escrita Beat "Tipe-Writing" 2

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Depois de doze horas numa capota de um caminhão com os mais loucos loucos motoristas que esse lado do equador é capaz de criar nas noites frias de inverno do sul do pais, acabei voltando para minha cidade, minha casa, para minha cama com lençol e travesseiro. E logo que desci do caminhão e falei até logo para aqueles dois polacos estranhissimos que só saiam por ai dizendo para todos os caronistas "tú vais pra lá?" "o café com rirombera é queeennnte!" caras loucos por um bom trago na madrugada e com historias que fariam até o tio Hercules maravilhado, depois de dizer um até logo para esses dois bons irmãos (e deixar minha garrafa de wisky barato na maos deles, o gosto desse wisky comprado nas estradas era estranho) (eu não poderia esperar menos de uma garrafa de meio litro de 45% por quatro reais) corri para o ponto de onibus mais proximo que poderia achar, coisa que é claro foi bastante facil, mas o esperar o onibus eu devo dizer que não foi tão facil assim, afinal depois de dois meses completos na estrada, correndo apenas para os lados que deseja, tomando daquilo que gosta e sentindo nada mais nada menos que toda a liberdade que um ser-humano da nossa geração-epoca-idade-loucura é capaz de aquentar, depois de ser surrado por amigos e ser abraçado pelos inimigos, depois de comer feijão debaixo de um trem de carga velho para não ser visto pelo guarda que teimava em se achar superior apenas p-o-r-q-u-e tem salario cama comida na mesa e dignidade que não é nada mais nada menos que aquilo que obrigam voce a querer, depois de tudo isso e mais um pouco (que poderia ser descrito sucintamente como roubar o ceu e mamar nas tetas do belo inferno) voce não aguenta mais ficar esperando quase uma hora para encontrar um unico onibus que sirva para sua bela e rapida viagem até o travesseiro mais proximo e a cama mais quente e, quem sabe, com um pouco de sorte, até um prato fumengante de sopa com carnes e batatas, um prato que só minha velha mãe, nos seus cinquenta e cinco anos, é capaz de fazer, um prato de sopa que vem de gerações em gerações e que, provavelmente, provem dos antigos indios que habitavam o local onde hoje são os nossos sujos pontos de onibus, os indios, avós dos avós dos avós da minha mae, correndo pra lá e pra cá atras da deliciosa comida que a natureza oferece e que somente ela é capaz de dar com tal gosto de verdade absoluta, coisa tão rara hoje e que todos, por mais inteligentes que sejam, ainda procuram desesperadamente, incluindo eu, pobre velho louco satanico Buda dos acostamentos, que com minha velha companheira mochila e minha lata de milho em conserva pode ir pra qualquer lugar onde o amor obsessivo-compulsivo de meia hora e vinte anos bata forte. Mas o onibus logo depois chegou e eu, correndo para casa, pude descansar para dali no dia seguinte seguir viagem, desta vez não para baixo, para o frio, para o sul e suas meninas loiras. Mas sim para cima, para as velhas minas, para onde um amor incorrespondivel e enigmatico me espera, para onde o passado rico e sangrento de nossa historia esquecida teima em reviver em cada esquina, onde as meninas são lindas lindas lindas e completamente surpreendentes, sem aquele falso moralismo ou aquela preocupação de "onde morrer onde morar com quem viver com quem casar de onde surgir pra onde vai dar" nada disso apenas o bom e velho "hey querido! me passa esse gole de vinho que eu amo o amor em todas as estancias!!" ah! que lindo! e pensar que daqui a duas semanas eu posso estar dormindo no colo de uma linda Maciel de cabelos curtos e olhos brilhantes, com sua pseudo-pseudo-inetelctualidade me fazendo cocegas na cabeça e com seus labios lindos e seu corpo perfeito se encarregando de todo o completo resto de mim.


cb4