sábado, março 31, 2007

Tennis Velho

Sempre usei roupas velhas. nada contra as coisas novas, mas acontece que nunca achei que uma calça nova me deixaria melhor.

E dentre todas as minhas roupas, a pior delas sem duvida nenhuma era meu Tennis. Usado até o fim, com buracos em todos os lados, era só passar numa pequena poça e, olha lá, ja estava completamente encharcado. Mas era um bom Tennis. De boa estirpe e coração nobre.

Certo dia, o Vizinho Jorge, dono de loja de roupas de nivel, viu meu Tennis no varal para secar. E teimou que ia me dar um Tennis novo, um daqueles coloridos, cheio de firulas, com amortecedor nos fundilhos e tudo mais. o Tennis custava 100 pilas no mercado. Coisa chique.

Segundo o Vizinho Jorge, com esse Tennis novo todas as garotas iam cair de amores por mim.

Como não sou de recusar presentes, aceitei de bom grado e usei logo na segunda feira de manhã. E nessa mesma manhã resolvi ir a pé para a faculdade que cursava. No meio do caminho, acabei cruzando com uma Loira fenomenal, de cabelos longos , olhos felinos e uma boca pequena. Sempre preferi as ruivas de cabelos longos, olhos amendoados e boconas. Mas tudo bem, não dormia com alguem a mais de seis meses.


A Loira passou olhando para os meus pés. E quando estava bem perto de mim tropeçou com seu Tennis tambem caro. E caiu no meu colo. Eu a Ajudei a se levantar. Começamos a conversar. Ela marcou um encontro casual no final de noite.

Até que ela era engraçada. Não entendia uma palavra do que eu dizia, mas ficava roçando seu perna na minha. ela não fumava e pediu para que eu parasse. Fiz. Depois do encontro casual, ela me levou até o apartamento dela e ali dentro descobri a sensação que fez Plutarco esquecer de tudo. Ela era agradavelmente boa naquilo que fazia. De manhã, já estavamos noivo.

Hoje, alguns meses depois de tudo isso, nos encontramos bem, a loira e eu. Acabei de terminar de construir minha academia-e-Canil. Os negocios vão de vento em popa. e embora tenha largado o cigarro, a faculdade, os livros e as ironias finas do meu antigo estilo de vida, hoje tenho 45 horas semanais de sexo maravilhoso com a mulher mais futil do mundo. Nada poderia ser melhor.


Não tenho mais saudade dos meus Tennis velhos. Hoje sou um homem feliz. Burramente feliz.





cb4

domingo, março 18, 2007

é engraçado. Voce mente durante tanto tempo, e tão verossimil pra si mesmo que tudo acaba sendo verdadeiros pros outros.


mas na hora que esta acabado, perdido, quando esta no escuro do teu quarto a noite. na hora em que não tem que fingir pra ninguem, a unica coisa que sai é mentira, é a falsidade que voce aprendeu a ignorar, mas sabe no fundo que ela poderia ser real...



Cb4

quarta-feira, março 14, 2007

Exercicio de escrita Beat "Tipe-Writing" 2

2

Depois de doze horas numa capota de um caminhão com os mais loucos loucos motoristas que esse lado do equador é capaz de criar nas noites frias de inverno do sul do pais, acabei voltando para minha cidade, minha casa, para minha cama com lençol e travesseiro. E logo que desci do caminhão e falei até logo para aqueles dois polacos estranhissimos que só saiam por ai dizendo para todos os caronistas "tú vais pra lá?" "o café com rirombera é queeennnte!" caras loucos por um bom trago na madrugada e com historias que fariam até o tio Hercules maravilhado, depois de dizer um até logo para esses dois bons irmãos (e deixar minha garrafa de wisky barato na maos deles, o gosto desse wisky comprado nas estradas era estranho) (eu não poderia esperar menos de uma garrafa de meio litro de 45% por quatro reais) corri para o ponto de onibus mais proximo que poderia achar, coisa que é claro foi bastante facil, mas o esperar o onibus eu devo dizer que não foi tão facil assim, afinal depois de dois meses completos na estrada, correndo apenas para os lados que deseja, tomando daquilo que gosta e sentindo nada mais nada menos que toda a liberdade que um ser-humano da nossa geração-epoca-idade-loucura é capaz de aquentar, depois de ser surrado por amigos e ser abraçado pelos inimigos, depois de comer feijão debaixo de um trem de carga velho para não ser visto pelo guarda que teimava em se achar superior apenas p-o-r-q-u-e tem salario cama comida na mesa e dignidade que não é nada mais nada menos que aquilo que obrigam voce a querer, depois de tudo isso e mais um pouco (que poderia ser descrito sucintamente como roubar o ceu e mamar nas tetas do belo inferno) voce não aguenta mais ficar esperando quase uma hora para encontrar um unico onibus que sirva para sua bela e rapida viagem até o travesseiro mais proximo e a cama mais quente e, quem sabe, com um pouco de sorte, até um prato fumengante de sopa com carnes e batatas, um prato que só minha velha mãe, nos seus cinquenta e cinco anos, é capaz de fazer, um prato de sopa que vem de gerações em gerações e que, provavelmente, provem dos antigos indios que habitavam o local onde hoje são os nossos sujos pontos de onibus, os indios, avós dos avós dos avós da minha mae, correndo pra lá e pra cá atras da deliciosa comida que a natureza oferece e que somente ela é capaz de dar com tal gosto de verdade absoluta, coisa tão rara hoje e que todos, por mais inteligentes que sejam, ainda procuram desesperadamente, incluindo eu, pobre velho louco satanico Buda dos acostamentos, que com minha velha companheira mochila e minha lata de milho em conserva pode ir pra qualquer lugar onde o amor obsessivo-compulsivo de meia hora e vinte anos bata forte. Mas o onibus logo depois chegou e eu, correndo para casa, pude descansar para dali no dia seguinte seguir viagem, desta vez não para baixo, para o frio, para o sul e suas meninas loiras. Mas sim para cima, para as velhas minas, para onde um amor incorrespondivel e enigmatico me espera, para onde o passado rico e sangrento de nossa historia esquecida teima em reviver em cada esquina, onde as meninas são lindas lindas lindas e completamente surpreendentes, sem aquele falso moralismo ou aquela preocupação de "onde morrer onde morar com quem viver com quem casar de onde surgir pra onde vai dar" nada disso apenas o bom e velho "hey querido! me passa esse gole de vinho que eu amo o amor em todas as estancias!!" ah! que lindo! e pensar que daqui a duas semanas eu posso estar dormindo no colo de uma linda Maciel de cabelos curtos e olhos brilhantes, com sua pseudo-pseudo-inetelctualidade me fazendo cocegas na cabeça e com seus labios lindos e seu corpo perfeito se encarregando de todo o completo resto de mim.


cb4

sábado, março 10, 2007

Após sobreviver 60 invernos sem abrigo, sem uma casa, com péssimas roupas e pouca comida, o bom mendigo que a todos era conhecido apedreja uma pessoa qualquer que passava pela calçada. Sem se mexer, sem fugir, simplesmente se sentou ao lado do corpo morto.
- Lá embaixo não pode ser tão frio.